quarta-feira

Sobre presentear

Queria te dar um presente, mas das coisas que vi feitas no mundo pelo homem, não encontrei nada que falasse do meu coração por ti. Nenhuma cor, nenhum objeto, nenhum presente. Nada que colorisse, enfeitasse ou vestisse. Nada que tivesse o teu tamanho. Talvez por achar que ainda o conheça pouco, embora já o saiba grande. E fiquei pensando nessa relevância (?) de "conhecer" o outro... Que paradoxo não conhecê-lo ainda tão bem e ainda assim saber daquilo que tu não és... ou que não é teu... ou das coisas que não te cabem. Descubro-te naquilo que não sei de ti. Conheço-te nas coisas que não vejo em ti. E é como tateá-lo nas primeiras vezes que nos soubemos em benquerenças secretas, quando no escuro do quarto eu te via e te (re)conhecia com as pontas dos dedos.
Penso que presentes para alguém assim, não podem apenas cumprir uma agenda. Presentes tem seu valor não pelo que possam conter dentro deles de visível e tateável, mas pelo invisível que possam revelar. Presentes devem falar no lugar daquilo que em nós fica mudo. É o que penso.
Presentes podem até encher estantes e armários, provocar risos e alegrias, mas o essencial é encher o coração de uma certeza que só sabemos quando reconhecemos o outro em nós e isso diz de um lugar particular, de uma zona secreta da amizade da qual poucos conseguem experimentar.
Por isso, por te reconhecer sem te conhecer, nas coisas indizíveis e invisíveis do mundo, pra ti, que és mundo e indivisível do mundo, dou-te minhas mãos vazias para que ao segurá-las nas tuas próprias mãos, possas receber o meu presente. E na inexistência desse objeto, será que minhas mãos estendidas a ti preencheriam as tuas com um presente? Pois que te daria aquilo que sou.

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