quarta-feira

Sobre amores líquidos

Com o tempo, muita coisa se aprende. Outras, até fazemos questão de desaprender para nos desprendermos de teorias inúteis e vãs. Uma, pra não cismarmos que os outros estão errados; outra, porque é melhor, de vez em quando, quebrar regras, romper leis estranhas e visivelmente descabidas para promover a boa convivência com os demais e com aqueles que, de fato, podem ser nosso apoio naqueles momentos mais terríveis de solidão. 
Há um tempo em que não entendemos por que caramba algumas pessoas maravilhosas que encontramos, nos veem algumas vezes, se encantam e, como em um conto de fadas (pra não dizer de bruxas), somem ao mínimo piscar de olhos...ou de lances de varinhas ou voos de vassourinhas...Como se nunca tivéssemos feito qualquer diferença na vida delas? Melhor pensar nisso como uma doce loucura destes tempos de amores líquidos, onde o concreto e o mais firme soam como perda de tempo... 
A verdade é que, neste mundo em que se pode assumir identidades mil, fácil mesmo e menos trabalhoso é não comprometer-se muito... nem pouco. Tampouco dizer-se e mostrar-se tanto. Fácil mesmo - apesar de mais doloroso e menos emocionante - é não amar. Porque até ao sentir-se amado, vê-se a vida com outros olhos. Vê-se a vida tal qual ela é, de fato: Um excelente motivo para sorrir. E até isso, muitas vezes, na rotina de nosso dia, esquecemos o quanto é bom. E há gente que ainda acha que ele, o amor; e ela, a vida, dão trabalho demais para começarem a ser vistos com outros olhos que não os fugazes e evasivos... 
Eu, de meu lado, prefiro ter trabalho...


(Carmen Palheta é jornalista, minha prima, sobrinha de meu pai, também jornalista, a qual cresci chamando de "mana". Outro dia, eu e ela conversávamos sobre este assunto - amores líquidos "y otras cositas más". Foi um papo delicioso. Hoje ela escreveu este texto que me lembrou muito os meus próprios textos... talvez por eu e ela termos a mesma reflexão e vivências parecidas neste momento da vida. Com autorização dela, publico aqui. Escrever é de família. Ser intenso também).

Um comentário:

Grã disse...

Algo q tb me incomoda muito: o "passar" de pessoas queridas... não deveria ser só o tempo a passar?
Não sei se é de hj... ou se sempre foi assim mas, pq as pessoas se vão tão facilmente?
Não sei se "amor líquido" seria o termo adequado, me parece um amor sólido - sólido no sentido de estanque - preso em uma porção específica de tempo/espaço... um amor incapaz de quebrar barreiras...
É um amor que não é.