sábado

Mini-crônica do avião.

Chovia bastante naquele dia e quase ninguém percebeu que ela, como a cidade chorava. Motivos diversos, os dela eram de uma alegria melancólica. Quando naquela tarde, a comadre-amiga se despediu dela na porta do edifício Malibú e ela deu o último abraço também naquela cidade, sentiu a alma tremer de uma saudade antecipada. A viagem tinha sido maravilhosa: muitos passeios, paisagens e diversão, mas principalmente, o que mais gostava dessas horas era poder reafirmar os seus laços. Há tempos, não sabia quando exatamente, adquiriu o hábito de contar nos dedos os anos de cumplicidade e afeto com alguns fiéis amigos. E felicidade maior era se dar conta que os dedos da mão já não eram suficientes para a conta! Que amigos incríveis tinha! E que agora também podia compartilhá-los com sua filha e alimentava esperanças de que a pequena aprendesse naquele convívio a grandeza de uma amizade verdadeira.

No caminho para o aeroporto a cabeça fervilhava com todos aqueles momentos devidamente fotografados que ela, compulsiva por registros, colecionava como figurinhas de um álbum infantil imprescindível. Por um instante pensou em perguntar para a filha "você gostou da viagem?". Mas guardou para si a pergunta e voltou a olhar pela última vez a paisagem molhada da Avenida Atlântica, com um singelo sorriso no canto dos lábios e olhos mareados.

Já no avião, fechou os olhos, fez uma prece e agradeceu. Pediu um fone de ouvido à comissária de bordo, sintonizou de pronto a rádio 5 que tocava "Canção da América" (aquela que diz que "amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração..."). Não acreditou naquilo. Olhou para os lados para ver se não estava sendo filmada e pensou "isso só pode ser uma pegadinha ou uma ação de marketing" daquelas que as empresas aéreas fazem em dia dos namorados ou final de ano e que ela já tinha visto na internet ou em revistas televisivas. Mas não era. E ela chorou e sorriu mais uma vez. Os amigos estavam lá, no lugar de sempre. Ela estava nas nuvens! Voou sossegada.

(Para os poucos que sabem muito da minha vida e me conhecem bem. Pessoas que passado anos, permanecem no mesmo lugar, me aceitam do jeito que sou, cada um a sua maneira e que não preciso citar nomes, eles se sabem. Amigo é coisa pra se guardar...)


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