segunda-feira

Sobre amores velados

Com medo de assustá-lo com a intensidade dos seus sentimentos, era baixinho que ela pronunciava o nome dele. E ela sussurrava entre os cabelos, os dedos, mordia os panos... um nome quase velado, em voz quase veludo, num amor quase veloz (tinha urgência). Ela que, quando por descuido foi feroz, mordeu-lhe os lábios e arranhou com as unhas sua pele. Ela fera, quando não se sabia mais disfarçar, ousou pronunciar em uma só ênfase a tal altura aquele nome curto. E foi então que por descuido e desencanto partiu o cristal e ouviu ecoar sua própria voz solitária no vão da desilusão.
Havia quebrado o pacto silencioso de não ultrapassarem a fronteira dos sonhos, onde sabiam-se inteiros. Na terra, o ar era denso e as relações, insuportavelmente reais.
Ela acordou sem esperanças. Ele caminhou solitário e confuso. Sua própria identidade revelada a si por ela era agora o que mais o assustava. Saber-se nela e dela tão verdadeira e intimamente ligado lhe parecia de uma  infeliz admissibilidade de seus próprios sentimentos.

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