Era poético se deixar levar pelos ares amarrada a um balão de gás. Era um balão bonito, que ele mesmo providenciara e amarrara fitilho de cetim em que ataria a sua ideia, que embora fixa, fosse frágil. Era mais prudente deixá-la ir e vê-la tal como sempre a viu havia um tempo, em que a espreitava por entre as janelas daquela cidade de construções ilusórias - uma ideia linda, leve, livre e distante -, do que descobrir em terra que de perto ela nada lembrava sua quimera. Havia leveza nessa metáfora, embora o balão a levasse, ela, a sua vaga e feliz ideia para longe dele. Já lá no alto, de onde ele não mais podia alcançá-la, ela agora habitava as suas noites de sonhos. Mas era dela o sonho desfeito. E entre as nuvens, o balão subia e, subindo ela sumia insólita por entre palavras e delicadezas que permeavam suas recentes lembranças e que aos poucos se esvaíam ao vento, já que quase inexistentes, até encontrar bem lá no alto de seus devaneios uma janela em que pudesse se debruçar. E de lá, seria ela quem agora espreitaria a vaga e doce ideia de um beijo dele.
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