segunda-feira

Sobre chorar

Precisava esvaziar-me. Toda aquela "m-água" estava me afogando e naufragando junto a nossa casa. Chorei porque eram bonitos os nossos sonhos e eu o queria mais perto naqueles dias e não soube dizer isso a ele. Chorei para gastar a raiva e lavar as frases malditas que deveriam ser proibidas e para derramar palavras benditas que poderiam ter sido ditas para nos salvar. Chorei porque embora o derrame verborrágico, era o silêncio entre nós que assombrava nossa recente alegria.

Chorei para nos perdoar, porque era grande o amor e de tão grande senti medo pela primeira vez. Era do tamanho de um mamute aquele amor, mas delicado como um beija-flor. De tão grande, o amor ficou frágil. E eu e ele sabíamos que era preciso liberar espaço dentro de nós para que o mamute não nos esmagasse. Chorei para esvaziar o copo antes que o leite derramasse.

Chorei por desejo dos beijos dele que não cessa; por todas as coisas e lugares de nós, que só eu e ele nos sabemos e nos reconhecemos. Chorei porque nos pertencemos e isso me emociona.

Chorei porque lhe disse mentiras e a única verdade não é menos digna de lágrimas. Chorei para lavar os olhos e enxergá-lo melhor: amo aquele homem com todas as suas tensões. Eu, que também tenho as minhas. Chorei porque o amor é um mar que transborda em mim. Às vezes, chorar é bonito.

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