quarta-feira

Mudou para melhor

Mudou-se simplesmente. Desta vez sem deixar bilhetes com explicações. Sem anunciar a partida. Sem prometer volta. Mudou para ver o sol, a outra margem do rio, para ver as estrelas, para sonhar outros sonhos... Mudou para fora de si, porque o país de dentro já o conhecia bem. Levou pouca coisa, já que o muito tornara-se pouco. Não carregou nunca mais velhas esperanças, nem lamentou.
Pensou em o que fazer com o restante da bagagem... Guarda-volumes são práticos e funcionais. Guarda-se a pesada bagagem e pode-se até esquecê-la por tempo indeterminado, sem incomodar ninguém (até que um dia o responsável se lembre de procurar no setor de "achados e perdidos"), enquanto se pode sair despreocupadamente para um passeio na cidade. Foi o que fez. Libertou-se do peso extra e partiu.
Mudou-se porque tinha que ser. Agora que sabia o lugar das coisas não precisava mais se apegar ao peso daquela bagagem que carregara por anos. O novo endereço não era como o antigo, cujos sonhos e ambições de boa morada, de tão grandes tornaram-se insuportáveis e inviáveis. Não era um castelo, como o antigo endereço, que embora grandioso, era de areia e desmoronou. Era humilde e ainda não passava de um pedaço de papel em branco e um lápis para começar a riscar.
Agora, quando alguém perguntava por aí para onde ela havia mudado, a resposta, segundo boatos que se espalharam na cidade, era, simplesmente: mudou pra melhor.

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