quarta-feira

Sobre meninas que crescem

Há alguns anos (diria, muitos anos), durante a primeira grande viagem que eu fiz para fora e para dentro de mim mesma, o meu melhor amigo me disse pela primeira vez "você ainda vai ser uma grande mulher!". Depois, por anos, de alguma forma, ele dava um jeito de me repetir isso sempre que eu compartilhava com ele minhas conquistas, angústias e frustrações. E a cada vez e a cada ano em que ele me dizia isso, era como se ele me dissesse que eu já tinha crescido alguns centímetros naquele exercício de me tornar uma grande mulher. E foi assim, que de centímetro em centímetro, eu não sei dizer se de fato, fui crescendo, mas fui mudando. Hoje já não o ouço mais dizer que serei uma "grande mulher". E eu não sei se já cresci o suficiente pra ser grande assim (ao menos em estatura sei que não).
Com o tempo entendi que o que o meu amigo queria dizer com "ser uma grande mulher" não era exatamente que eu seria uma grande empresária ou uma chefe de estado ou alguém famosa, mas alguém que conquistasse a si própria, que fosse forte o suficiente para superar as adversidades da vida e principalmente que aprendesse a se defender de qualquer tipo de agressão. Grande e bom amigo que era por toda uma vida, ele conhecia tão bem minhas fragilidades, tanto o quanto também acreditava nas minhas potencialidades. E afinal, para que serve um amigo de verdade se não for também para sinalizar nossas atitudes diante da vida?
Até hoje tenho diálogos incríveis e memoráveis com ele. Outro dia, percebendo, pelo meu discurso, que muitos sonhos haviam adormecido ou mesmo estavam amargurados em mim, ele me disse: "queria que você não esquecesse a menina que existe em você!" Aquilo me soou contraditório, afinal, não era uma "grande mulher" que ele almejava ver em mim um dia? Eu lhe respondi: "não posso sentir falta do que um dia já fui, porque não sou mais aquela. E a vida também não é mais tão simples. Tenho problemas de gente grande". Ele retrucou: "só estou te dizendo para não deixar uma mulher amarga ocupar o lugar da menina que morreu". Devolvi brincando, para quebrar a seriedade daquela conversa: "não se preocupe, uma vez por ano eu brinco carnaval". E então, pensei o quanto malabaristas e versáteis nós, mulheres, temos que ser nessa vida: ser de ferro, sem deixar de ser pétala. Eis a alma feminina, que poderia ser aprendida e praticada por muitos homens.
Pois que sei que mora em mim uma menina de vinte anos. Mas ultimamente, me sinto gigante. Será que cresci ou será só mais uma fantasia de menina? Oh, mãe, me explica, me ensina!

Belém, 08 de março, 2013. Dia internacional das Mulheres.

(Sei que o dia de hoje é lembrado por questões coletivas muito maiores, mas dedico este singelo texto - escrito sob licença literária sobre diálogo com um amigo - a todas as amigas guerreiras, mulheres que batalham por casa, filhos, pais, empresa, amor, causas sociais etc, mas que não deixam morrer a linda menina que existe dentro de cada uma.)

Nenhum comentário: